A ORAÇÃO DE UM GATO
Fonte da Foto: pinterest.com
Senhor, sei que não sou humano e que minhas ações de caridade nem sempre são reconhecidas pelos humanos, mas preciso de sua intervenção em minha vida.
Antes de minha mãe engravidar, vivia em uma casa quentinha e tinha bastante comida, mas ninguém providenciou castração para minha mãe e quando ela engravidou, não havia mais carinho e abrigo, foi jogada no lixo como um objeto imprestável que traria problemas.
Por sua providência, Senhor, minha mãe encontrou abrigo em um carro abandonado e pessoas com pena, davam a ela um pouco de comida. Mas ninguém, ninguém teve suficiente compaixão de levá-la pra casa. Mesmo que fosse temporariamente, para que ela tivesse seus bebês e os mesmos fossem dignamente doados.
E naquele carro velho, sujo e fedorento, nasci com mais 3 irmãozinhos. Um de meus irmãos faleceu três dias depois de uma doença, outro foi atropelado assim que aprendeu a andar. Outro foi morto com uma pedrada. Por uns dias fiquei apenas eu e minha mãe.
Não demorou muito tempo e minha mãe morreu envenenada. Me vi ali sozinho, sem a menor experiência de sobrevivência, sem carinho e companhia. Sentia muita, muita fome e muito frio.
Eu observava os humanos passeando com suas crianças, eles costumam carregar seus bebês em carrinhos coloridos. Costumam dar um monte de alimentos prejudiciais aos filhos na rua, para que as crianças parem de pedir coisas. No começo pensei que eu, minha mãe e meus irmãos seríamos uma família assim. Que viveríamos um bom tempo juntos e mesmo como pobres moradores de rua, seríamos uma família amorosa e feliz. Mas Senhor, nem tive a oportunidade de brincar com meus irmãos, assim como as crianças humanas podem se divertir em pracinhas. Ao invés de família, sofri a morte de meus entes amados e sozinho fiquei no mundo.
Senhor, eu quis superar aqueles tempos cruéis, tentei ainda continuar naquele carro velho e me contentar com os restos de pratos que senhoras piedosas as vezes levavam para mim, mas não deu certo. Logo vieram cachorros me atormentar, meninos horríveis judiavam de mim, o dono de um bar sempre que me via jogava água e pulgas, muitas pulgas me atacavam naquele carro tão sujo. Pra piorar, um bêbado tocou fogo no carro dizendo que ratos haviam feito um ninho ali.
Bem, vaguei dias e dias pelas ruas com fome e frio em busca de um novo abrigo. Em um desses dias uma jovem senhora me resgatou. Poxa, como fiquei feliz! Que maravilha! Finalmente o Senhor tinha escutado as minhas orações!
A jovem senhora repetia incansavelmente que era minha mamãe, que me amava e que nunca me deixaria sozinho outra vez. Ela me deu banho, limpou minha pele, me levou ao veterinário. Comprou muita comida especial para mim e brinquedinhos, muitos brinquedinhos. Ela comprou a cama mais linda do pet shop, era muito quentinha e macia.
Eu desfrutei de boa vida com minha mamãe humana durante uns dois anos. Ela era casada, eu tinha também um papai humano e inclusive, foi ele quem escolheu meu nome.
Acontece Senhor, que um dia essa minha mamãe engravidou e o médico disse a ela que eu transmitiria uma doença muito séria para ela e para o bebê que ela estava esperando. Ao invés dela pesquisar na Internet que ela só pegaria essa doença se comesse as minhas fezes, ela foi correndo contar ao papai toda aquela besteirada que o médico disse a ela. E qual foi a conclusão? Meu pai mandou ela me doar para outra pessoa.
Durante uma semana ela tentou me doar, meu papai não me dava mais carinho, agora me chutava, me batia. Minha ração não era mais daquelas boas, passou a ser ração barata que nem matava a fome. Papai não me chamava mais pelo nome que ele me deu, passou a me chamar de "esse bicho". Não me deixavam mais entrar na casa, me jogaram no quintal apenas com uma caixa de papelão. A cama quentinha e fofinha eles guardaram, diziam que do lado de fora iria estragar. Eu poderia estragar, mas a cama não. E no final de uma semana, ela pressionada pelo marido, me colocou em um saco de ráfia e me jogou bem longe dali.
Senhor, de volta às ruas tudo ficou muito mais difícil. Fui resgatado muito pequeno e não tinha muita habilidade em caçar, gatos grandes me batiam, cachorros me atacavam. Comida? Não era todo dia que uma boa alma me dava algo pra aliviar a fome. Fiquei magro, bem magro, cheio de feridas e pulgas.
Ninguém também se preocupou em me castrar e como todos os outros gatos, eu também queria namorar. Certo dia uma gatinha linda pintou no pedaço. Como era gatinha! Logo me apaixonei por ela e queria namorar. Eu sei que ela também se apaixonou por mim, mas um gato muito maior do que eu me deu uma baita surra e casou com a gata.
Senhor, dessa surra eu peguei uma doença chamada FelV. Durante um bom tempo eu não sentia nada. De um mês para cá comecei a sentir uma falta de ar quando corria. Depois comecei a por pra fora a comida que eu acabava de comer.
Agora Senhor, com câncer e paralítico, aqui debaixo desse outro carro velho, venho fazer um último pedido ao Senhor e sei que um dia serei atendido: "Senhor, olhai por todos os animais abandonados da Terra! Também dê a cada um deles o pãozinho de cada dia, o abrigo e o consolo. Aos humanos, Senhor, dê a cada um segundo as suas obras. Os maus que colham o que semeiam, os bons que sejam tão abençoados, mas tão abençoados, que tenham o bastante para cuidar de animais também. E quanto a mim Senhor, agora me alivia a alma. Recebe minha vida de volta, pois tu és o dador da vida. Meu Senhor e verdadeiro Pai, me conduz ao reencontro com minha mãe e meus irmãos, ao teu colo de amor e compaixão. Que assim seja, Senhor! Amém!".
Texto de Carla Rockatansky
Nota da Autora: Esse texto não é nenhuma obra maravilhosa ou perfeita, apenas peço aos que lerem que incentivem as pessoas a castrarem seus animais, a terem a responsabilidade de criá-los por toda a vida e a obterem as devidas informações sobre seus pets ao invés de jogá-los nas ruas por causa de mentiras infundadas de gente inútil.
Fonte Foto: catster.com
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